“Mais de duas mil mulheres já foram operadas no país”
A fístula obstétrica é uma lesão grave entre a bexiga e a vagina ou entre o recto e a vagina, provocada por um parto demorado, obstruído e sem assistência médica, o que provoca perda descontrolada da urina (incontinência urinária), o que faz com que muitas mulheres libertem mau cheiro, o que lhes impossibilita de ter uma vida social, sendo, geralmente, abandonadas pelo esposo e pela família
Pelos menos 2.500 mulheres que sofriam de fístulas obstétricas já foram operadas por médicos afecto à Maternidade Lucrécia Paim, por meio de uma campanha que tem sido levada a cabo desde 2018, em todo o país, pela instituição sanitária.
A directora geral da Maternidade Lucrécia Paim, Manuela Mendes, em entrevista (…) disse que o número de mulheres com problemas de fístulas obstétricas no país é elevado. Acrescentou que, só em Luanda, todos os dias são operadas duas mulheres, que já vivem com este problema há anos.
Segundo Manuela Mendes, para responder à demanda, foi aberto um bloco operatório especificamente para atender mulheres com fistulas obstétricas.”Anteriormente, devido às urgências das gestantes no bloco da Maternidade, as mulheres com fistulas eram postas em segundo plano e os números continuavam a crescer”.
A especialista em ginecologia e obstetrícia explicou que, no âmbito das comemorações do Dia Internacional do Fim da Fístula Obstétrica, um grupo de médicos da Maternidade Lucrécia Paim vai, novamente, à província do Bié, para operar cerca de 150 mulheres.
De acordo com Manuela Mendes, a campanha de operação à fistula obstétrica, que decorre de 23 a 31 do corrente mês, vai contar com a participação de três médicos estrangeiros, sendo dois norte americanos e um irlandês, que são referências a nível internacional, no que toca à operação de fístulas com maior complexidade.
Manuela Mendes deu a conhecer que a Maternidade Lucrécia Paim, até ao momento, é a única unidade sanitária pública do país a fazer operações à fístulas obstétricas, situação que não permite atender todas as mulheres com este problema.
“Pretendemos abrir uma escola para a formação de médicos e cirurgiões especialistas em fístulas obstétricas e, para tal, precisamos de mais financiamento e outros suportes”, realçou a médica.
Segundo a responsável da Maternidade Lucrécia Paim, para que o projecto da escola comece, contam com o apoio da Federação de Ginecologia e Obstetrícia Internacional (FIGO), que está interessada em ajudar Angola na formação de gineco-obstetras, habilitados para operar fistulas simples ou complexas.
Manuela Mendes fez saber que, devido à exiguidade de especialistas para operar fistulas obstétricas, a Maternidade Lucrécia Piam tem estado a organizar, desde 2018, uma campanha de pendor voluntário, em que um grupo de médicos da instituição vai ao encontro das vítimas, tendo já operado várias mulheres nas províncias de Uíge, Huíla, Huambo, Bié e Bengo.
De acordo com Manuela Mendes, a Primeira Dama da República, Ana Dias Lourenço, abraçou a causa e tem estado a prestar todo o apoio possível, como madrinha da campanha, para permitir que mais mulheres possam estar livres da fistula obstétrica.
Definição da doença e consequências
A fístula obstétrica é uma lesão grave entre a bexiga e a vagina ou entre o recto e a vagina, provocada por um parto demorado, obstruído e sem assistência médica, o que provoca perda descontrolada da urina (incontinência urinária).
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de dois milhões de mulheres na África Subsaariana, Ásia, região árabe e América Latina sofrem da doença, com a ocorrência de 75.000 novos casos por ano. É considerada uma doença da pobreza, com pouca incidência no mundo desenvolvido.
A directora geral da Maternidade Lucrécia Paim explicou que a perda descontrolada da urina faz com que as mulheres libertem mau cheiro, o que lhes impossibilita de ter uma vida social, sendo, geralmente, abandonadas pelo esposo e pela família de forma geral.
“Isso cria um isolamento social e a própria mulher passa a ter vergonha de se aproximar das pessoas. É uma situação muito constrangedora para as mulheres. Quando elas encontram alguém que lhes informa e orienta, a ponto de serem operadas, a vida delas volta ao normal e conseguem recuperar a família”, disse a médica obstetra.
Prevenção
Segundo a especialista em obstetrícia, a prevenção é a grande armada para se acabar com as fístulas. E, uma das formas de se prevenir, prosseguiu, é evitar a gravidez precoce, porque as fístulas obstétricas surgem mais em mulheres muito jovens.
Manuela Mendes explicou que outra forma de se prevenir é optar por um parto assistido, para que, caso surja alguma complicação, tudo possa ser resolvido com segurança, sem causar danos às parturientes.
A médica disse que outra grande forma de prevenção é criar casas de espera de parto, próximas aos hospitais, e colocar lá as mulheres que tenha algum risco de desenvolverem fistulas obstétricas.
Creditos: JA