31 anos de acordo de Bicesse.
Completam-se hoje, trinta e um anos desde a assinatura do primeiro acordo de paz, entre o Governo do MPLA e a ex-rebelião armada da UNITA, a primeira e bem sucedida iniciativa que levou ao aperto de mãos entre o ex-Presidente, o Eng. José Eduardo dos Santos e o Dr. Jonas Malheiro Savimbi, sob mediação do Governo português, dirigido pelo Professor Aníbal Cavaco Silva.
Embora o espírito e a letra de Bicesse, no que diz respeito à realização de eleições conclusivas e à normalização da vida política e institucional, na via democrática, falharam, razão pela qual o país resvalou para a guerra que se seguiu, a História regista o facto de angolanos terem protagonizado um feito inesquecível. Vale lembrar aqui a memória de Jeremias Chitunda, que dirigiu a delegação da UNITA em Bicesse, o papel do político e nacionalista Lopo do Nascimento, que liderou a equipa governamental que, sob mediação portuguesa, souberam colocar os interesses de Angola, os anseios do povo pela paz e a expectativa de pacificação do país acima de quaisquer outros.
Hoje, 31 anos depois importa que retiremos as melhores lições dos Acordos de Bicesse, independentemente do fracasso que levou o país a mergulhar na guerra, registe-se isso, por causa da recusa da UNITA de Jonas Savimbi em conformar-se com os resultados eleitorais, que apontavam para uma segunda volta das eleições presidenciais.
Ao colocar em causa os resultados eleitorais inconclusivos, que davam ao ex-Presidente, José Eduardo dos Santos, que se mostrou disponível para concorrer, e Jonas Savimbi, que se tinha mostrado irredutível e irreconciliável, uma segunda oportunidade, aquele último tinha deitado tudo a perder.
Como tinha lembrado uma vez o ex-Presidente, quando instado a pronunciar-se sobre o comportamento de Jonas Savimbi, ao optar pela guerra, o segundo Chefe de Estado da História de Angola tinha, de forma simples e lacónica, caracterizado assim o então líder rebelde: “tinha feito má avaliação das suas capacidades militares”.
E o tempo provou que as opções a favor da guerra não iriam a lado nenhum e como nos ensina a tradição judaico-cristã, baseada na ideia de “tudo o que começa um dia, um dia acaba”, a guerra também terminaria e terminou em Fevereiro de 2002, exactamente dez anos depois da célebre promessa de Jonas Savimbi, em 1992, segundo a qual “a UNITA teria ainda capacidade para lutar por dez anos”.
Hoje, os Acordos de Bicesse servem para lembrar-nos de que o diálogo, a concertação, a preparação política e cívica para fazer cedências, ao mesmo tempo que fazemos exigências, devem fazer parte da nossa vida em sociedade para o bem da paz, segurança, estabilidade e bem-estar. O exercício permanente de reconciliação, de unidade, tolerância, aceitação da convivência na diversidade levar-nos-á, com mais facilidade, à construção de uma sociedade livre, justa, democrática, solidária, de paz, igualdade e progresso social.